Cuidar de um idoso, especialmente um que vive com Alzheimer ou outras demências, é uma das tarefas mais desafiadoras e nobres que existem. Nós, profissionais de saúde e familiares cuidadores, sabemos que cada palavra conta. A comunicação é uma ferramenta poderosa, capaz de acalmar ou agitar, de conectar ou afastar. E, às vezes, sem querer, usamos frases que podem causar mais sofrimento do que imaginamos.
O poder das palavras: demência X idosos lúcidos
É fundamental lembrar a diferença crucial entre idosos lúcidos e idosos com demência.
Para idosos lúcidos, podemos conversar abertamente, debater, discordar e usar a lógica. Eles compreendem o contexto e as nuances das palavras.
Já para idosos com demência, o cérebro funciona de outra forma. A lógica pode não ser compreendida, a memória falha e a interpretação das palavras pode ser literal ou distorcida. Por isso, certas frases, que para nós parecem inofensivas, podem ser gatilhos para frustração, ansiedade e até agressividade.

As 6 frases que devemos evitar a todo custo:
Vamos direto ao ponto. Aqui estão as 6 frases que você deve riscar do seu vocabulário ao interagir com idosos com Alzheimer ou outras demências, e o porquê:
1. “Você não lembra disso?” ou “Eu já te falei isso!”
- Por que evitar: Como já conversamos, a perda de memória é um sintoma da demência. Perguntar isso é como testar a pessoa e, para ela, é uma falha constante. Gera vergonha, frustração e pode deixá-la ansiosa.
- O que fazer em vez: Responda à pergunta como se fosse a primeira vez. Use frases afirmativas e gentis. “Sim, conversamos sobre isso. [Repita a informação de forma simples].” Ou desvie a atenção: “Que tal a gente tomar um chá enquanto conversamos sobre outra coisa?”
2. “Não é assim que faz!” ou “Você está errado(a)!”
- Por que evitar: Críticas diretas causam raiva, teimosia e agitação. O idoso pode não conseguir processar a informação ou entender “o certo”. Seu mundo interior é a realidade dele.
- O que fazer em vez: Valide a tentativa, mesmo que incompleta ou “errada” do nosso ponto de vista. “Olha que interessante o jeito que você está fazendo! Que tal a gente tentar assim também?” Ou, se for algo perigoso, distraia e gentilmente redirecione para a forma segura.
3. “Eu sou sua filha/filho!” (quando o idoso confunde a identidade)
- Por que evitar: Confrontar a identidade, quando o idoso está confuso, é inútil e doloroso. Isso pode gerar mais confusão, tristeza e agitação. Ele não se lembra, e insistir só faz com que ele se sinta incapaz.
- O que fazer em vez: Aceite a realidade dele no momento. Se o idoso disser que você é “tal pessoa”, concorde que você é. Quando ele te pergunta quem é você diga seu nome, mas, se a confusão causa risco ou angústia, apenas mude de assunto. Acolha a emoção por trás da confusão.
4. “Não chora!” ou “Não fica triste!”
- Por que evitar: Essas frases invalidam os sentimentos do idoso. Mesmo com demência, as emoções são reais. Chorar ou ficar triste pode ser a única forma que ele tem de expressar dor, medo, frustração ou tédio.
- O que fazer em vez: Valide a emoção e ofereça conforto. “Parece que você está triste. Posso te dar um abraço?” ou “Estou aqui com você. O que está te incomodando?” Apenas estar presente e oferecer carinho já ajuda muito.
5. “Você se lembra daquele dia…?” (tentando forçar a memória)
- Por que evitar: Essa é uma variação da primeira frase, mas foca em um evento específico. Colocar o idoso nessa “prova” de memória só gera frustração. Ele pode não ter acesso àquela lembrança.
- O que fazer em vez: Em vez de perguntar, conte a história. “Como foi divertido aquele dia! Aconteceu isso, isso e aquilo…” Deixe que ele se engaje se puder, mas sem a pressão de “ter que lembrar”. Use fotos e objetos para estimular a conversa sem cobrança.
6. “Eu já te respondi, não vou repetir!”
- Por que evitar: Isso transmite impaciência, irritação e falta de compreensão. O idoso com demência não está agindo de má-fé ao repetir uma pergunta. Ele simplesmente esqueceu a resposta ou a pergunta.
- O que fazer em vez: Respire fundo e responda novamente, com a mesma paciência da primeira vez. Mude a forma de responder ou desvie a atenção para outra atividade. “Vamos conversar sobre isso enquanto a gente [sugira uma atividade agradável]”

Comunicação terapêutica: a chave do cuidado
Entender as “frases proibidas” é o primeiro passo para uma comunicação terapêutica e empática com idosos com demência. Não se sinta culpado se você já usou alguma dessas frases. É um aprendizado constante.
A chave é sempre focar no bem-estar emocional do idoso, na sua dignidade e em criar um ambiente de paz e segurança. Sua paciência, seu amor e sua capacidade de se adaptar são os maiores aliados nesta jornada.