Cuidar de um idoso é uma missão de amor, dedicação e, convenhamos, cheia de desafios, né? A gente se prepara, busca informação, mas tem horas que a gente se depara com situações que nos deixam de cabelo em pé! Uma delas é quando o idoso que você cuida apresenta agitação e agressividade.
Sabemos que isso pode ser desgastante, frustrante e deixa você sem saber o que fazer. Pode parecer que é “do nada”, mas a realidade é que nunca é do nada. Especialmente quando falamos de idosos com Alzheimer ou outras demências, essa agitação e agressividade são problemas muito frequentes. E é sobre isso que a gente vai conversar hoje, de forma clara e direta.
A Agitação e Agressividade na Demência: Entendendo o Porquê
Como dissemos, na demência (seja Alzheimer, Corpos de Lewy, Vascular, Frontotemporal ou outra), a agitação e agressividade são comuns. Mas por que isso acontece?
O ponto central é que o idoso com demência não consegue expressar verbalmente o que pensa ou sente por causa do comprometimento do seu raciciocínio e sua linguagem, chamada afasia. É como se ele estivesse com um monte de coisas dentro dele (sentimentos, desconfortos, medos) e não tivesse as palavras para colocar para fora. Aí, essa energia e frustração saem em forma de agitação ou agressividade.
Existem gatilhos que desencadeiam esses comportamentos. Eles podem incluir:
•Desconforto físico: Sede, fome, frio, calor, sono, dor (que ele não consegue dizer onde é!), estar com a roupa apertada ou algo incomodando (como uma etiqueta, por exemplo), precisar ir ao banheiro (intestino preso ou retenção de urina), fralda suja, enfim, tudo pode ser um gatilho.
•Medo e insegurança: A demência rouba a capacidade da pessoa compreender as realidades ao seu redor, ela pode não reconhecer o ambiente, as pessoas, não entender o que está acontecendo e isso gera muito medo e insegurança, e a agitação é uma forma de manifestar esses sentimentos.
•Dificuldade de comunicação: Não entender o que você diz ou não conseguir se fazer entender. A dificuldade em interpretar informações é real e bastante confusa na cabeça deles.
•Falsa interpretação da realidade ou alucinações: O idoso pode enxergar ou ouvir coisas que não existem (alucinações visuais, auditivas) ou pode interpretar de forma errada o que está acontecendo ao redor, sentindo-se ameaçado, mesmo que não haja motivo real.
•Ser contrariado ou trazido para a “nossa” realidade: Tentar argumentar, insistir que ele está errado, ou querer que ele aceite a lógica que para você é óbvia, aumenta a agitação. O cérebro demenciado não processa mais a lógica.
•Testar a memória: Perguntar “você lembra?” coloca a memória dele à prova, causa constrangimento, irritação e inibe o funcionamento cerebral.
•Mudanças na rotina: A rotina traz segurança para quem tem demência, pois não conseguem assimilar novas informações facilmente. A falta de rotina ou mudanças inesperadas aumentam a insegurança e podem levar à agitação.
•Excesso ou falta de estímulos: Um ambiente muito barulhento, com muita gente, luz forte ou, ao contrário, tédio e inatividade. Ser ignorado também pode ser frustrante.
Entender esses pontos é o primeiro passo para lidar com a agitação e agressividade. Não é “pirraça” ou “teimosia”, é uma manifestação da doença.
Dicas Práticas para Lidar com Agitação e Agressividade

1.Observe e procure o gatilho: Antes de tudo, tente entender o que está causando o comportamento. Verifique se há dor, fome, sede, necessidade de ir ao banheiro, se está com frio ou calor. Às vezes, resolver uma necessidade básica simples acalma a situação.
2.Não discuta, não tente lógica, não traga para a sua realidade: Essa é a regra de ouro. Argumentar ou insistir que ele está errado só piora a agitação e pode levar à agressividade. O cérebro dele não processa a lógica da mesma forma.
3.Concorde e entre na realidade dele: Por mais estranho que pareça o que ele diz (alucinações, falas confusas), concorde para trazer acolhimento e segurança, isso acalma. Se ele perguntar por alguém que já faleceu, use a “mentira terapêutica” de forma carinhosa (diga que a pessoa está viajando, trabalhando, etc.) Para alucinações, diga que você já resolveu o problema (tirou os bichos, chamou a polícia).
4.Distraia e mude o foco: Quando ele insistir em algo ou estiver agitado, mude o assunto ou proponha uma atividade diferente. Pode ser algo que ele gostava de fazer no passado, uma atividade simples que o faça sentir útil (dobrar roupas, secar louça, regar plantas), ouvir música antiga, ou simplesmente dar uma volta.
5.Comunicação calma, clara e simples: Fale devagar, com frases curtas e diretas. Use um tom de voz suave e tranquilo, sem afobamento ou agressividade. Olhe nos olhos e use um toque gentil ou um sorriso para transmitir segurança e acolhimento. Fragmentar as informações, dando um comando por vez, ajuda na compreensão e execução.
6.Mantenha a rotina: Uma rotina bem definida e consistente traz segurança e previsibilidade, diminuindo a angústia de não saber o que vai acontecer. Mantenha horários parecidos para acordar, comer, atividades e dormir.
7.Crie um ambiente tranquilo: Reduza o barulho, a luz forte e o excesso de estímulos, especialmente no final do dia. Um ambiente calmo ajuda a acalmar o idoso.
8.Valide a emoção (não a razão): Se ele está agitado por um medo que para você não faz sentido, diga “Eu vejo que você está com medo. Eu estou aqui com você, vai ficar tudo bem”. Valide o sentimento de medo, não a razão ilógica dele.
9.Seja paciente: Lidar com isso exige muita paciência. Nem sempre as estratégias funcionam de primeira, e o comportamento pode oscilar muito. Se a resistência ou agitação for muito grande, recue, espere um pouco e tente novamente mais tarde.
10.Evite frases que acusam de esquecimento: Nunca diga: “eu já te falei”, “você já perguntou isso”. Para ele, é a primeira vez, e essas frases causam frustração. Repita a resposta calmamente.
11.Para comportamentos de risco: Se a agitação leva a querer fazer algo perigoso (como dirigir), use a criatividade com estratégias de distração ou “mentira terapêutica” para remover a possibilidade sem confrontar diretamente.
Se a agitação e agressividade forem muito intensas ou não cederem, sempre converse com o médico que acompanha o idoso. Pode ser necessário avaliar medicação ou investigar outras causas (como infecções).

Não se Esqueça de Você, Cuidador!
Enfrentar agitação e agressividade no dia a dia é esgotante física e emocionalmente. Você, cuidador (seja familiar ou profissional), também precisa de cuidado. Busque conhecimento (é a primeira forma de cuidar), converse com outras pessoas que vivem a mesma realidade, peça ajuda para a família, e reserve momentos para descansar.
Aceite que você também precisa de suporte. Sua saúde é essencial para poder continuar cuidando bem do idoso.
Lidar com a agitação e agressividade na demência é um aprendizado diário. Com informação correta, paciência, estratégias adequadas e, acima de tudo, muito carinho, é possível gerenciar esses momentos difíceis e trazer mais tranquilidade para a vida de todos. Você não está sozinho nessa jornada!
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