Blog da Luziane Mendes

Tornando o dia a dia do cuidador de idoso mais leve e assertivo

Por que idosos com Alzheimer têm memórias vívidas do passado e dificuldade com o presente?

Se você convive com um idoso com Alzheimer ou outra demência, já deve ter se deparado com essa situação intrigante: ele se lembra de fatos de décadas atrás com uma clareza impressionante, mas não se recorda do que comeu no café da manhã ou da visita que recebeu há pouco tempo. Isso é super comum e, por mais confuso que pareça, tem uma explicação.

Entender por que isso acontece é o primeiro passo para tornar o dia a dia do cuidado mais leve e eficaz, tanto para você quanto para o idoso. Vamos descomplicar?

O cérebro na demência: um arquivo complexo

Pense no nosso cérebro como um grande arquivo. As memórias não ficam todas guardadas no mesmo lugar ou da mesma forma. Na demência, especialmente no Alzheimer, a doença começa a danificar áreas específicas do cérebro.

  1. Memórias Recentes e Imediatas: A área mais afetada inicialmente no Alzheimer é justamente aquela responsável por registrar e armazenar novas informações, o que chamamos de memória imediata e recente. É como se a “caixa de entrada” do arquivo ficasse danificada. As novas informações (o que acabou de acontecer, o que foi dito há pouco) simplesmente não conseguem ser armazenadas ou retidas por muito tempo.
  1. Memórias Remotas (do Passado): As memórias mais antigas, aquelas de muito tempo atrás (infância, juventude, vida adulta), estão armazenadas em outras áreas do cérebro. No início da doença, essas áreas geralmente estão mais preservadas. É por isso que o idoso com demência consegue se lembrar de fatos passados, pessoas que já faleceram ou eventos que aconteceram há muito tempo com riqueza de detalhes. Para ele, essa memória do passado é tão real que ele acredita estar vivendo aquele tempo agora.

Em resumo: A doença compromete primeiro a capacidade de criar e reter novas memórias, enquanto as memórias antigas permanecem acessíveis por mais tempo. Essa é a razão pela qual ele repete a mesma coisa várias vezes – para ele, é sempre a primeira vez que está dizendo ou perguntando.

Dicas Práticas para o Cuidador 

Agora que você entende por que a memória funciona dessa forma na demência, veja como adaptar sua abordagem para facilitar o dia a dia:

  1. Não Teste a Memória: Evite frases como:

“Lembra quem é fulano?” ou “Lembra que já te falei?”. 

Isso causa constrangimento, irritação e não ajuda, pois ele realmente não consegue acessar essa memória naquele momento.

Faça diferente: Diga diretamente quem é a pessoa ou conte o fato:

“Mãe, essa é a Maria, sua sobrinha.” 

“Pai, gostei muito quando fomos pescar naquele rio no sábado de manhã?” 

  1. Não Diga “Eu Já Te Falei!”: Por mais cansativo que seja, ele não lembra que você já respondeu ou que ele já perguntou. Dizer isso o frustra e o deixa inseguro.

Faça diferente: Repita a resposta quantas vezes for necessário, com calma. Para ele, é a primeira vez. Não tem problema dar a mesma resposta ou até uma ligeiramente diferente.

  1. Comunicação Simples e Fragmentada: O idoso com demência tem dificuldade em processar várias informações ao mesmo tempo.

Faça diferente: Use frases curtas e objetivas. Dê um comando por vez e espere ele executar antes de dar o próximo. Ex: “Vamos sentar aqui.” (Espere). “Agora vamos comer.”

  1. Quando Ele Falar do Passado ou de Pessoas Falecidas (Como se Estivessem Vivas): Lembre-se, a memória do passado está preservada, e para ele, aquele tempo é o presente. Dizer a “verdade” (que a pessoa morreu) causa luto e agitação repetidamente.

Faça diferente: Use a “mentira terapêutica”. Entre na realidade dele. Diga que a pessoa está viajando, trabalhando, doente, ou que virá outro dia. Você pode até usar um áudio gravado no celular como se fosse a pessoa falando e dando uma desculpa. O objetivo é trazer tranquilidade e evitar o sofrimento.

  1. Distraia e Mude o Foco: Se ele insistir em um assunto que o agita ou que é irreal, argumentar não funciona.

Faça diferente: Mude o foco de atenção dele para outra coisa que seja do interesse dele, especialmente assuntos ou atividades do passado que ele gostava. Coloque uma música antiga, chame para uma atividade simples onde ele se sinta útil (dobrar roupa, secar louça, cuidar de planta), ou mude de ambiente.

Cuidar de um idoso com demência é um desafio constante que exige paciência, flexibilidade e, acima de tudo, conhecimento. Ao entender como a doença afeta a memória e o comportamento, você ganha ferramentas poderosas para lidar com as situações de forma mais tranquila e digna.

E lembre-se: cuidar de quem cuida é essencial. Busque apoio, converse com outros cuidadores, não se cobre demais. Você não está sozinho nessa jornada!

Esperamos que este guia ajude a esclarecer essa questão e a tornar o cuidado um pouco mais leve! Se tiver mais dúvidas, é só perguntar.

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