Uma das maiores preocupações de quem tem um familiar com Alzheimer é a pergunta: “E se eu também tiver?”. A relação entre genética e a doença é complexa e gera muitas dúvidas. A resposta curta é que a maioria dos casos não é hereditária no sentido de ser uma herança direta, mas a genética tem um papel importante.
A ciência tem avançado rapidamente. Um estudo importante de 2023, publicado na renomada revista The Lancet Neurology, reforçou que o estilo de vida tem um poder enorme. A pesquisa mostrou que hábitos saudáveis — como exercícios físicos, alimentação balanceada e atividades que estimulam o cérebro — podem reduzir significativamente o risco de demência, mesmo em pessoas que carregam os genes de risco para o Alzheimer.
Isso significa que, embora a genética possa “carregar a arma”, o estilo de vida é que “puxa o gatilho”. E é nesse ponto que suas escolhas fazem a diferença e ganham ainda mais importância.
É fundamental entender que existem dois tipos principais de Alzheimer: o de início precoce (raro) e o de início tardio (mais comum).
Alzheimer de início precoce: a forma rara e genética
Esse tipo da doença, que atinge pessoas com menos de 65 anos, é responsável por menos de 5% dos casos. Ele está diretamente ligado à genética. Se um dos pais tem uma mutação em um dos genes específicos (APP, PSEN1 ou PSEN2), a chance de o filho desenvolver a doença é de 50%.
Esses genes produzem proteínas que, quando alteradas, levam ao acúmulo de placas no cérebro de forma muito mais agressiva. Um estudo publicado em 2021 no Journal of Alzheimer’s Disease destacou que a detecção dessas mutações genéticas é crucial para o diagnóstico e para o desenvolvimento de tratamentos específicos para essa forma da doença.
Alzheimer de início tardio: o papel dos genes de risco
A grande maioria dos casos de Alzheimer (mais de 95%) é diagnosticada em pessoas com mais de 65 anos. Nesses casos, a hereditariedade não é a regra, mas a predisposição genética é um fator importante.
O principal gene associado é o APOE. Todas as pessoas têm o gene APOE, mas ele se apresenta em diferentes versões (chamadas alelos): E2, E3 e E4.
- APOE-E2: É o alelo mais raro e parece ter um efeito protetor contra o Alzheimer.
- APOE-E3: É o alelo mais comum e não tem uma influência significativa no risco.
- APOE-E4: Ter uma ou duas cópias desse alelo aumenta o risco de desenvolver Alzheimer, mas não garante que a pessoa terá a doença. Muitos indivíduos com APOE-E4 nunca desenvolvem o Alzheimer, e muitas pessoas sem o APOE-E4 o desenvolvem. Um artigo de 2022 na revista Nature Medicine ressalta que o alelo APOE4 acelera a neurodegeneração, mas fatores ambientais e de estilo de vida também desempenham um papel crucial.

Genética vs. Estilo de Vida: o que realmente importa?
Mitos e Verdades
Entender a relação entre a genética e o Alzheimer pode ser assustador, mas o conhecimento é a melhor ferramenta para combater o medo. A predisposição genética não é um destino inevitável. Ela é apenas uma parte do quadro. O estilo de vida e o ambiente têm um papel fundamental e, o mais importante, são fatores que podemos controlar.
O que fazer na prática?
- Para você e sua família (se houver histórico genético): Adotar medidas preventivas o mais cedo possível é a chave. Pense em uma vida mais ativa e saudável não como uma obrigação, mas como um investimento no futuro. Mantenha o cérebro ativo com novos aprendizados, cuide da sua saúde cardiovascular (controlando a pressão alta e o diabetes, por exemplo) e mantenha uma vida social ativa. Essas ações são as melhores formas de construir uma “reserva cerebral” que pode proteger contra a doença.
- Para o idoso sob seus cuidados: Quando a demência já está instalada, o foco muda. O conhecimento sobre a genética pode ajudar a entender a doença, mas o que realmente importa é a rotina de cuidado diária. Concentre-se no que pode ser feito agora para melhorar a qualidade de vida do idoso. Isso inclui garantir a segurança do ambiente, oferecer uma nutrição adequada e, principalmente, manter a estimulação cognitiva por meio de atividades que sejam agradáveis e que façam sentido para ele.

Em resumo, a genética não anula o poder das escolhas. O cuidado, a atenção e as ações diárias são o que realmente farão a diferença na jornada de quem vive com a doença.