Vamos falar sobre um dos momentos mais desafiadores no cuidado de idosos, especialmente para quem convive com o Alzheimer ou outras demências: aquele pedido constante: “Quero ir para casa”. Eu sei que isso pode ser super desgastante e deixar a gente sem saber o que fazer. Mas respira fundo, porque neste post vamos entender por que isso acontece e, o mais importante, descobrir como lidar com essa situação de um jeito mais leve e eficaz, tanto para você quanto para o idoso.
Por que o Idoso Pede Para “Ir Para Casa”?
Quando um idoso com Alzheimer, ou outras demências, pede para “ir para casa”, mesmo estando em sua casa, ele está apresentando um sintoma da doença chamado desorientação temporoespacial. Ele não está conseguindo se situar no tempo presente e nem no espaço físico atual porque a sua noção da realidade está comprometida. A pessoa pode estar vivendo em uma lembrança do passado, onde casa era outro lugar e outro tempo.
Eles se sentem inseguros e com medo porque muitas vezes percebem as alterações em sua fala, sua mente e comportamento, mas não sabem expressar esta insegurança e, ao não reconhecerem o ambiente onde estão, buscam a “casa” não como um espaço físico, mas como um lugar seguro e de proteção; afinal, quando nos vemos em uma situação de medo logo queremos ir para casa, não é mesmo? Esse sentimento de não entender pode gerar ansiedade, agitação e o desejo de voltar para um lugar que, na memória, representa segurança e familiaridade.
- Como agir:
Aqui, o pedido para “ir para casa” não é uma teimosia consciente, mas um sintoma da doença. A pessoa não lembra que já está em casa ou que a “casa” que ela busca não existe mais da forma como lembra. Tentar trazer para a sua realidade ou argumentar só vai aumentar a agitação e o estresse.
◦ NÃO discuta ou argumente: Não tente usar a lógica. Isso não funciona com quem tem demência e só piora a situação.
◦ Concorde e valide o sentimento: Diga algo como: “Percebo que você quer ir para casa” para mostrar que você ouviu e validou o sentimento, mesmo que a razão não faça sentido para você. Dê a ele uma bolsinha e peça para que ele coloque o que quer levar. Para idosos acamados, cadeirantes ou com dificuldade visual, diga que você já está arrumando a bolsinha para ele ir embora.
◦ Entre na realidade dele (Mentira Terapêutica): Essa é uma técnica super útil! Em vez de dizer a verdade (que pode causar dor e agitação), entre na “onda” dele: “Vou te levar pra casa assim que o dia amanhecer porque está perigoso sair a noite”. “Quando fulano chegar nós vamos para sua casa”.
O objetivo é tranquilizar, não enganar no mau sentido.

◦ Distraia e Mude o Foco: Depois de validar o sentimento ou dar uma resposta dentro da realidade dele, mude o assunto ou convide para outra atividade que ele goste ou que o faça se sentir útil. Pode ser ouvir uma música antiga, dar uma volta, ajudar a dobrar roupas, cuidar de plantas, tomar um chá e outros.
◦ Seja paciente: Repita a estartégia quantas vezes for necessário. Não diga “Eu já te falei!” ou “Você está perguntando de novo!”. Isso gera frustração.
Dicas Essenciais Para o Dia a Dia:
• Mantenha uma Rotina: Idosos com demência se sentem mais seguros com uma rotina previsível. Saber o que vai acontecer nos próximos minutos ou horas diminui a ansiedade e pode reduzir os pedidos de ir para casa. Mantenha horários fixos para acordar, comer, atividades e dormir.
• Estimule a Utilidade: Incluir o idoso em pequenas tarefas que o façam se sentir útil (ajudar na cozinha, no jardim, com pets) melhora o comportamento e a sensação de pertencimento.

• Cuidado com a Comunicação: A perda auditiva é comum no envelhecimento e pode dificultar a compreensão. Fale de frente, de forma clara, e dê tempo para o idoso processar a informação. Não infantilize sua forma de se comunicar com ele.
• Cuide-se: Lidar com isso é desafiador e desgastante. Busque informação, apoio e lembre-se que você também precisa de pausas e cuidado. O desgaste do cuidador é real.
Lidar com o pedido para “ir para casa” exige paciência, compreensão e, principalmente, a estratégia certa. Não se trata de uma luta contra a “teimosia”, mas sim de entender as necessidades e limitações de cada um e adaptar o seu cuidado.
E lembre-se: nem todas as estratégias funcionarão sempre ou com todos os idosos, e o que funciona hoje pode não funcionar amanhã. E está tudo bem!. Tenha paciência com o idoso e também com você mesmo.
Espero que este conteúdo seja útil no seu dia a dia de cuidado! 💪