Quando o diagnóstico de Alzheimer chega, a primeira coisa que vem à mente são os medicamentos. Eles são importantes, sim, para gerenciar os sintomas e tentar retardar o avanço da doença. No entanto, o cuidado com a pessoa com demência é muito mais amplo. As terapias não farmacológicas têm um papel fundamental e podem fazer uma diferença enorme no dia a dia, tanto para o idoso quanto para o cuidador.
Vamos entender como essas terapias complementam o tratamento tradicional e por que elas são tão cruciais para a qualidade de vida.
O que são as Terapias Não Farmacológicas?
São intervenções que não usam medicamentos. Elas focam em atividades, ambientes e abordagens que estimulam a mente, o corpo e as emoções do idoso. As mais conhecidas são o exercício e atividade física, Terapia Ocupacional, a Fisioterapia, a Musicoterapia, mas existem muitas outras que você, como cuidador, pode aplicar.
Para Idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL)
Nessa fase, o objetivo é a prevenção e o atraso do declínio cognitivo. Para quem tem CCL, que pode ou não evoluir para demência, a estimulação é a chave.
- Estimulação Cognitiva: Atividades que desafiam o cérebro, como jogos de memória, quebra-cabeças, leitura e palavras cruzadas, aprender novas habilidades como um instrumento musical ou uma nova língua são ótimas. Um estudo publicado em 2023 no Journal of Alzheimer’s Disease mostrou que a estimulação cognitiva regular em idosos com CCL pode melhorar a função executiva e a memória. É fundamental aprender coisas novas para estimular novas áreas no cérebro.
- Socialização: Quanto mais vínculos sociais a pessoa idosa constrói, mais o cérebro dela se protege. É importante manter relacionamentos saudáveis com familiares, estimular a intergeracionalidade (vínculo com crianças, adolescentes e adultos mais jovens). As relações sociais devem se estender para a sociedade através de grupos de convivência, trabalhos voluntários, pastorais e outras formas de conexão social.
- Atividade e Exercício Físico: Exercícios aeróbicos, como caminhadas, atividades de equilíbrio e coordenação e ganho de força muscular são essenciais. Uma pesquisa de 2022 no Lancet Healthy Longevity destacou que a atividade física regular está associada a um menor risco de progressão do CCL para demência.

Para Idosos com Quadros de Demência
Nesta fase, as terapias não farmacológicas ajudam a gerenciar os sintomas comportamentais (como agitação ou agressividade) e a melhorar o bem-estar emocional, já que a memória e a funcionalidade estão mais comprometidas. Como citado anteriormente, a socialização e atividade/exercício físico são essenciais para os cuidados de idosos com demência. Além delas o cuidador deve aplicar também outras estratégias não farmacológicas:
- Terapia de Validação: A técnica se baseia em validar os sentimentos da pessoa, mesmo que a fala dela não faça sentido para nós. Em vez de corrigir, o cuidador acolhe a realidade do idoso, o que reduz a ansiedade e a agitação e cria um ambiente de segurança e confiança.. Ex. Se a pessoa idosa diz: “Preciso buscar as crianças na escola”, você valida o sentimento de preocupação que ele apresenta: “Entendo que o senhor se sinta preocupado com os filhos.”
- Terapia de Orientação da Realidade (TOR): A aplicação dessa terapia pode varias de acordo com a fase da demência que a pessoa idosa está. Se a fase é inicial ou moderada leve e idoso diz que precisa buscar as crianças na escola, depois de validar o seu sentimento de preocupação, como mostrado anteriormente, diga a ele que as crianças já estão crescidas e não tem necessidade de buscá-las. Diga o nome dos filhos e vá dizendo o que cada um faz no tempo atual. Quando já está em fase moderada mais avançada e a pessoa idosa já não consegue mais compreender a realidade, insistir na Orientação da Realidade (TOR) pode gerar frustração e estresse. Neste caso, após validar seu sentimento de preocupação, diga que ‘fulano’ já foi buscá-los e logo chegarão. Em seguida mude o foco de atenção deste idoso e sempre que ele repetir a pergunta ou insistir na mesma fala, você responde novamente e mais uma vez desvia seu foco de atenção.
- Terapia de Reminiscência: Consiste em apresentar fotografias, objetos de uso pessoal, vídeos e outras coisas mais que evoquem boas lembranças neste idoso. Cuidado para não ficar exigindo que este idoso se lembre das pessoas fotos porque a tentativa de “forçar para trabalhar sua mente”, na verdade causa uma grande frustração e sentimento de vergonha. Se perceber que ele não reconhece, diga quem são as pessoas e converse com ele sobre as coisas do passado que estejam vivas em sua memória.
- Musicoterapia e Arteterapia: Músicas familiares podem acalmar e melhorar o humor. A musicoterapia, por exemplo, pode diminuir a agitação e sintomas de depressão em pacientes com demência, como mostrou um artigo de 2021 no Journal of Gerontology: Psychological Sciences. Crie uma lista de músicas que o idoso gostava na juventude e toque-as em momentos de agitação ou durante a noite para ajudar no sono.
- Terapia com Animais: O contato com pets pode diminuir o estresse, a ansiedade e a sensação de solidão. A interação é simples, mas o efeito é poderoso, proporcionando conforto e um senso de propósito.
- Terapia da Boneca: Esta abordagem, que vem ganhando destaque, oferece uma boneca (ou um boneco) para a pessoa idosa com demência em fase moderada mais avançada, seja homem ou mulher. A boneca pode se tornar um objeto de carinho e responsabilidade, trazendo à tona o papel de cuidador que a pessoa desempenhou no passado. Para muitos, o ato de embalar e cuidar da boneca oferece uma sensação de paz, propósito e segurança.

O Papel do Cuidador
Como cuidador, você é a ponte entre a pessoa com demência e essas terapias. O seu envolvimento em atividades simples e significativas (como ler em voz alta, passear no jardim ou ouvir músicas antigas) é, em si, uma forma poderosa de terapia não farmacológica. O cuidado humanizado, a paciência e a empatia são tão essenciais quanto qualquer medicamento.
O tratamento do Alzheimer é uma combinação de abordagens. Os medicamentos cuidam da parte biológica, enquanto as terapias não farmacológicas tratam o ser humano por completo, preservando sua dignidade e qualidade de vida.