Seja você familiar ou profissional, sabemos que a sua jornada é repleta de amor, dedicação e, muitas vezes, grandes desafios. Cuidar de idosos, especialmente aqueles que convivem com o Alzheimer ou outras demências, exige uma adaptação constante e, claro, muita paciência.
Uma das maiores dificuldades que encontramos no dia a dia é a comunicação. Aquilo que dizemos (ou como dizemos) pode fazer toda a diferença, tornando o cuidado mais leve ou, ao contrário, ativando gatilhos de agitação, agressividade ou nervosismo no idoso.
Este post foi feito para te ajudar a identificar algumas frases que você nunca deve dizer ao idoso com Alzheimer ou outra demência, e o mais importante: o que fazer no lugar! Afinal, a sua missão de cuidador pode ficar bem mais leve com as estratégias certas.
Vamos lá? Vem comigo!
Por Que Algumas Frases Devem Ser Evitadas? A Demência Explica.
Antes de listar as frases proibidas, é fundamental entender por que elas são prejudiciais. A demência afeta a capacidade de processar informações e entender a realidade atual. Sendo assim, muitas frases que dizemos, na maior boa intenção de oferecer o melhor cuidado, pode ser interpretada de outra forma por este idoso e, consequentemente, ele vai se irritar e o clima fica bem tenso e difícil.
Outra coisa importante de entender é que este idoso, muitas vezes, não consegue assimilar a realidade ao seu redor, portanto, quando tentamos “ajudar” este idoso se situar na realidade, mais confuso ele fica e pior será.
Entender que esses comportamentos não são teimosia ou “pirraça”, mas sim sintomas da doença, muda completamente a forma como você lida com a situação.
O QUE NÃO DIZER ao Idoso com Alzheimer ou Outra Demência (e o que fazer no lugar!)
Existem frases que são proibidas de serem ditas ao idoso com Alzheimer, pois ativam gatilhos de agitação, agressividade e impulsividade.
Aqui estão algumas delas:

- NUNCA diga: “Lembra de mim?” ou “Lembra de fulano/daquele dia?”
◦ Por quê? Idosos com Alzheimer não são capazes de lembrar como antes. Testar a memória deles não estimula, mas sim causa constrangimento, irritação e inibição. Eles se sentem mal por não conseguir lembrar.
◦ O que fazer: Diga quem é a pessoa: “Oi, vó, sou a Maria, filha da Joana, sua neta”. Conte os fatos ou acontecimentos em vez de perguntar se ele lembra. Para idosos em geral, explicar quem é alguém conhecido ajuda a situar e relembrar.
- NUNCA diga: “Eu já te falei!”, “Você tá perguntando de novo?”, “Já respondi isso!”, “Vai me contar essa história outra vez?”
◦ Por quê? O idoso com demência tem sua memória imediata comprometida, portanto, ele não lembra que já disse ou que já perguntou, é como se fosse a primeira vez que ele pergunta ou conta algo. Dizer essas frases estressa e entristece muito o idoso.
◦ O que fazer: Respire fundo e responda calmamente. Trate como se fosse a primeira vez. Você pode repetir a mesma resposta quantas vezes for necessário. Uma ótima técnica é a distração: mude o foco para outro assunto, sugira uma atividade do interesse dele (memórias do passado, música antiga, algo que o faça sentir útil).
- NUNCA diga: “Seu pai/mãe/irmão já morreu há não sei quanto tempo!” (ou insista em trazer para a “sua” realidade fatos dolorosos que eles não lembram).
◦ Por quê? Ele não lembra do falecimento. As memórias do passado estão preservadas e ele acredita que está vivendo naquele tempo. Dizer que a pessoa morreu é como dar a notícia da morte pela primeira vez, ativando um gatilho de luto, dor, sofrimento, tristeza e podendo causar agitação, nervosismo ou agressividade. Não adianta tentar trazer o idoso para a sua realidade.
◦ O que fazer: Use a mentira terapêutica. Diga que a pessoa está viajando, trabalhando, cuidando dos filhos/netos. Use algo que faça sentido no contexto da memória preservada dele. Ele não lembrará da sua resposta. O objetivo é trazer tranquilidade e segurança. Em geral, diante de falas irreais ou alucinações (ver bichos, pessoas), concorde para trazer a sensação de acolhimento e compreensão. Depois, distraia e mude o foco.
- Evite dizer diretamente: “Vá tomar banho”, “Você tem que ficar limpinho”, “Já está com mau cheiro”.
◦ Por quê? Usar a palavra “banho” ou expressões como “ficar limpinho”, “higiene”, “saúde” podem causar repúdio e dificuldade na hora do cuidado, especialmente se houver resistência. O idoso pode sentir receio ou constrangimento por precisar de ajuda na intimidade, mas não sabe expressar isso.
◦ O que fazer: Use estratégias indiretas. Leve-o ao banheiro de forma despretensiosa (mostrar algo, pedir ajuda com a limpeza, ouvir uma música). Dê comandos verbais simples e fragmentados (um de cada vez: “Tire a camisa”, “Tire a bermuda”). Se possível, deixe a roupa íntima ou oriente a higiene íntima para preservar o pudor. Prefira o chuveirinho e comece molhando os pés sutilmente. Se a resistência for muito grande, recue e tente mais tarde ou use lenços umedecidos para higiene.
- NUNCA use linguagem infantilizada (ex: “vovôzinho”, “queridinho”) a menos que o idoso goste.
◦ Por quê? Pode ser visto como infantilização.
◦ O que fazer: Chame-o pelo nome ou pelo apelido que ele sempre usou. Para idosos com demência que não reconhecem faces, usar o nome em vez de “mãe” ou “pai” pode ser menos agressivo, a menos que você perceba que ele está reconhecendo você naquele momento.
Estratégias Positivas Para o Dia a Dia
Além de saber o que não dizer, aplicar estratégias positivas melhora muito o cuidado:

- Paciência e Empatia: Tente se colocar no lugar do idoso. Entenda que os comportamentos são sintomas da doença. As mudanças na comunicação não acontecem da noite para o dia, tenha paciência com o seu próprio processo de adaptação também.
- Comunicação Eficaz: Fale de frente, olhando nos olhos, em ambiente iluminado para facilitar a leitura labial. Use voz calma e suave. Dê comandos simples e fragmentados. Respeite o tempo que o idoso leva para processar e responder.
- Distração e Mudança de Foco: É uma das ferramentas mais eficazes para lidar com repetições e insistências. Use música, conversas sobre o passado, atividades que ele goste e o façam se sentir útil.
- Valide os Sentimentos: Mesmo que o motivo do medo ou agitação não faça sentido para você, a emoção é real. “Percebo que você está assustado(a). Estou aqui com você, vai ficar tudo bem.”. Não discuta ou tente usar a lógica.
- Estabeleça uma Rotina: A rotina traz segurança para o idoso com demência, pois ele sabe o que esperar. Manter horários regulares para acordar, banho, alimentação e atividades ajuda a controlar a agitação. Inclua atividades que o façam sentir útil.
- Não Ignore o Idoso: Envolva-o nas conversas e atividades. Ele sente que está sendo deixado de lado, mesmo que não compreenda tudo.
- Fale do Passado: As memórias antigas geralmente estão mais preservadas. Conte histórias ou fatos do passado (sem testar a memória).
Lidar com os desafios da demência exige buscar conhecimento. As dicas e estratégias, quando aplicadas, podem tornar o dia a dia do cuidado muito mais tranquilo e digno para todos.
Lembre-se: você, cuidador, é fundamental nesse processo. Cuidar de si também é essencial. Peça ajuda, converse, descanse1. Você não está sozinho.