Vamos aprofundar um pouco mais em um ponto crucial para quem lida com o Alzheimer: como identificar em qual fase a doença se encontra. Isso não é para dar um diagnóstico – que só o médico pode fazer, tá? – mas para te dar um norte, entender o que pode estar acontecendo e, assim, conseguir aplicar as estratégias de cuidado mais adequadas para cada momento.
O que funciona na fase inicial pode não funcionar na fase mais avançada. Conhecer as fases ajuda você a se preparar e a lidar melhor com os desafios que surgem.
Por que é Importante Saber a Fase do Alzheimer?
Saber em qual fase o idoso com Alzheimer está pode te ajudar a:
- Entender os comportamentos: Muitos comportamentos desafiadores vêm da doença e não são “pirraça” ou teimosia consciente.
- Adaptar a comunicação: A forma de falar muda conforme a doença avança.
- Planejar os cuidados: As necessidades de ajuda com as atividades diárias (como banho, alimentação) aumentam com o tempo.
- Gerenciar suas expectativas: Isso diminui a frustração e o desgaste físico e emocional do cuidador.
As Fases do Alzheimer: Do Leve ao Avançado
É importante notar que a evolução do Alzheimer varia de pessoa para pessoa, e a transição entre as fases nem sempre é clara. O diagnóstico formal da fase é feito pelo médico geriatra, neurologista ou psicogeriatra com base em exames clínicos, testes, exames de imagem e laboratorais.
Vamos simplificar as características gerais de cada fase:
Fase Leve (Inicial)
Nesta fase, os sinais ainda podem ser sutis, mas já indicam mudanças. Infelizmente, a maioria das pessoas, incluindo profissionais da saúde, caracterizam essas mudanças como sendo “normal da idade” e muitas vezes o quadro é negligenciado e os cuidados não são ofertados.
- Perda de memória recente: É o sintoma mais conhecido no início do Alzheimer. O idoso esquece fatos que acabaram de acontecer, conversas recentes, onde colocou objetos. Por isso, pode repetir a mesma pergunta ou história várias vezes, pois para ele, é a primeira vez que está dizendo.
- Dificuldade com atividades conhecidas: Coisas que antes eram fáceis de fazer começam a se tornar um desafio.
- Desorientação no tempo e espaço: Pode ter dificuldade em saber o dia, o mês, o ano, ou se perder em locais familiares. Eles podem querer “ir para casa” mesmo já estando em casa, porque não reconhecem mais o ambiente como o lar que lembram.
- Perder e guardar objetos em lugares estranhos: Guardar a chave na geladeira, dinheiro em locais inusitados, e depois acusar alguém de ter pegado. Isso acontece porque ele olha para o objeto, não reconhece sua função e guarda onde parece lógico naquele momento para ele.
- Alterações de humor: Pode apresentar oscilações de humor, às vezes mais triste, outras vezes mais apático.
- Dificuldade com cálculos ou raciocínios mais complexos: Tarefas que envolviam matemática ou planejamento ficam mais difíceis.
Nessa fase a pessoa ainda é capaz de realizar suas atividades de forma independente e ainda tem boa parte da autonomia preservada e por causa disso, muitas pessoas acham que o comportamento ou fala desconexa deste idoso é proposital, ou até mesmo acha que é “normal da idade”, como citado anteriormente.

Dica importante para a comunicação na fase leve (e em todas as fases de demência):
- Não teste a memória do idoso com frases como “Você lembra?”. Diga quem é a pessoa ou conte o fato.
- Se ele repetir algo, responda como se fosse a primeira vez. Não diga “Eu já te falei!”.
- Use frases curtas e simples, fale de frente e olhando nos olhos.
Fase Moderada
Nesta fase, os sintomas da fase leve se tornam mais intensos e surgem novos desafios. A dependência para as atividades diárias aumenta e este é o principal fator na evolução da doença.
- Perda de memória mais acentuada: O esquecimento de fatos recentes e antigos se agrava.
- Dificuldade crescente com atividades diárias: O idoso precisa de mais ajuda para administrar medicamentos, dinheiro, tarefas diárias da casa e outras coisas mais, que antes eram feitas por ele sem grandes dificuldades.
- Dificuldade em reconhecer pessoas: Pode ter dificuldade em reconhecer rostos familiares, mesmo de filhos ou cônjuges.
- Alterações de comportamento: Agitação, agressividade, irritabilidade, recusa em realizar atividades (como o banho), perambulação (andar sem rumo) se tornam mais comuns. Isso muitas vezes vem da dificuldade de expressar o que sentem (dor, fome, medo) ou de entender o que está acontecendo.
- Dificuldade de comunicação (Afasia): Fica mais difícil encontrar as palavras, formar frases ou entender o que é dito.

Nesta fase, estratégias de distração são muito úteis e recomendadas. Manter uma rotina estruturada traz segurança e diminui a agitação. A terapia com bonecas ou pets pode ser benéfica nesta fase, estimulando a interação e a comunicação.
A memória de fatos antigos está mais preservada. É por isso que falar sobre o passado e contar histórias antigas funciona bem na comunicação e nas visitas. O idoso ainda pode ter alguma independência nas atividades de vida diária.
Fase Avançada
Esta é a fase de maior dependência e comprometimento.
- Dependência total ou quase total: O idoso precisa de ajuda para todas as atividades básicas: comer, vestir, tomar banho, usar o banheiro.
- Perda da capacidade de comunicação: A fala se torna muito limitada ou inexistente. A comunicação é mais por expressões faciais, sons ou linguagem corporal.
- Dificuldade de locomoção: Pode perder a capacidade de andar, necessitando de cadeira de rodas ou ficando acamado.
- Perda do reconhecimento: Pode não reconhecer mais os familiares ou até mesmo a si próprio.
- Sintomas físicos mais presentes: Dificuldade para engolir, perda de peso, infecções.
Nesta fase, o foco do cuidado é o conforto, a dignidade e a prevenção de complicações. A comunicação é essencialmente não verbal (toque gentil, sorriso, tom de voz suave). Manter a rotina continua importante para trazer segurança. A presença e o afeto são fundamentais.

Principal estratégia de cuidado em todas as fases
Os idosos com Alzheimer ou outras demências devem ser estimulados a realizar o máximo possível suas atividades básicas, sem auxílio, ou com o mínimo de auxílio possível. Quanto maior a estimulação, mais lentamente a doença progride.
Paciência e Autocuidado são Fundamentais
Cuidar de um idoso com Alzheimer em qualquer fase é desafiador e pode gerar desgaste físico e emocional. É normal se sentir frustrado ou cansado. Tenha paciência com o seu próprio processo de aprendizado e adaptação. As coisas não mudam da noite para o dia.
Lembre-se de que você não está sozinho. Buscar informação, conversar com outros cuidadores, pedir ajuda para a família e, principalmente, cuidar de si mesmo é essencial. Seu bem-estar reflete diretamente na qualidade do cuidado que você oferece.
Esperamos que entender as fases do Alzheimer ajude a clarear o caminho e a deixar a sua missão de cuidador muito mais leve! Continuem acompanhando o blog para mais dicas práticas!
Um grande abraço e conte sempre conosco! 🤗