Blog da Luziane Mendes

Tornando o dia a dia do cuidador de idoso mais leve e assertivo

Teimosia em idosos: dicas práticas para cuidadores e familiares lidarem com desafios.

Vamos falar sobre um desafio que, vamos ser sinceros, tira o sono de muita gente: a tal “teimosia” do idoso. Sabe aquela situação em que parece que a pessoa assistida está insistindo em algo sem sentido ou se recusando a fazer algo simples, como tomar banho ou comer? Dá um nó na cabeça e a gente fica sem saber o que fazer, né?

Se você já passou por isso (e aposto que sim!), este post é para você! Vamos desvendar juntos o que pode estar por trás dessa “teimosia” e, o mais importante, aprender estratégias práticas e eficazes para lidar com ela, deixando o seu dia a dia (e o do idoso) mais leve e tranquilo.

Primeiro, vamos falar a real: Teimosia não é exclusividade da velhice

Pode parecer que “idoso é teimoso por natureza”, mas a verdade é que a teimosia é um comportamento que existe em todas as fases da vida: criança, adolescente, adulto e, claro, idoso. Teimosia é, basicamente, insistir em algo que a pessoa quer, acha certo ou gostaria que acontecesse. Quem nunca agiu ( e age) assim?

A questão é que nós envelhecemos como somos. Se a pessoa adulta já era insistente ou tinha um temperamento forte, é provável que continue assim na velhice. Comportamentos não mudam na velhice, exceto se houver uma doença instalada, como uma demência ou doença psíquica.

Então, o que vemos nem sempre é uma “teimosia da idade”, mas sim a manutenção de um traço de personalidade ou, em muitos casos, um sinal de que algo mais complexo está acontecendo, especialmente quando há um quadro de demência.

A chave de tudo: Idoso Lúcido x Idoso com Demência

É fundamental diferenciar se você está lidando com um idoso lúcido ou com um idoso que apresenta algum quadro de demência (como Alzheimer). A abordagem, os motivos por trás do comportamento e as estratégias mudam completamente.

Vamos entender essa diferença na prática:

1. Lidando com a “Teimosia” do Idoso LÚCIDO

Quando o idoso é lúcido, ele tem autonomia e capacidade de tomar as próprias decisões sobre si mesmo. O que percebemos como teimosia, nesse caso, é uma insistência consciente na sua vontade ou no seu jeito de fazer as coisas.

  • Como Funciona: Ele sabe o que quer, o que não quer e as possíveis consequências de sua escolha, mas opta por seguir o seu caminho, seja por preferência, medo, necessidade de controle, ou mesmo por uma característica da sua personalidade.
  • Sua Abordagem:

Estimule o Diálogo Aberto e Racional: Converse com ele, tente entender os motivos da recusa ou insistência. Explique a importância de certas ações (como higiene para a saúde) de forma clara e respeitosa, sem infantilizar.

Apresente as Consequências: Mostre os riscos ou o que pode acontecer se ele não fizer o que é necessário (ex: “se o senhor não for ao médico, corre o risco de acontecer isso e aquilo…”).

Respeite a Autonomia e a Escolha: Aqui está um ponto difícil, mas crucial. Se o idoso é lúcido, ele tem o direito de decidir, mesmo que a decisão pareça errada para você. Você não é pai/mãe dos seus pais. Respeitar a liberdade de escolha, mesmo que traga incômodo para você, é parte de manter o papel dele de pai/mãe/avô.

Valide os Sentimentos (com Respeito): Se houver vergonha, medo ou desconforto por trás da recusa (como no banho, por exemplo), reconheça esses sentimentos. “Entendo que seja desconfortável, mas estou aqui para ajudar”.

Lembre-se: Insistir para que o idoso lúcido faça algo do seu jeito, sem respeitar a escolha dele, pode fazer com que a teimosia passe a ser sua.

2. Lidando com a “Teimosia” do Idoso com DEMÊNCIA

Aqui, o cenário muda drasticamente. Na demência, o comportamento “teimoso” NÃO É TEIMOSIA CONSCIENTE. É, na maioria das vezes, um sintoma da própria doença e do comprometimento cognitivo.

  • Como Funciona: O idoso com demência tem dificuldade de processar informações, entender a realidade e, crucialmente, não lembra do que acabou de acontecer, do que disse ou do que você respondeu. Quando ele repete a mesma pergunta pela décima vez ou insiste em uma ideia irreal (como ir “para casa” mesmo estando em casa), para ele é a primeira vez. Não há consciência da repetição ou da irrealidade da fala, portanto, não podemos caracterizar como teimosia.
  • Estes idosos também perdem o senso crítico de certo e errado e têm dificuldade em reconhecer suas limitações, por isso, quando eles insistem em fazer algo que já não é indicado que façam, na cabeça deles, aquilo é totalmente possível, assim como eu e você insistimos naquilo que acreditamos.

Como agir?

NUNCA discuta ou tente trazer para a realidade: Tentar usar a lógica ou insistir que ele está errado só causa mais agitação, nervosismo, impaciência e até agressividade. A demência compromete a capacidade de assimilar lógicas.

SEMPRE Concorde: Entre na realidade do idoso. Concordar traz a ele uma sensação de acolhimento e compreensão, o que ajuda a acalmá-lo. Use a “mentira terapêutica” se for necessário para evitar sofrimento ou agitação.

NÃO Argumente, DISTRAIA: Em vez de argumentar, mude o foco do idoso para algo do interesse dele. Pode ser assuntos do passado (que a memória ainda preserve), atividades que o façam sentir útil, músicas que ele gostava.

Comunicação Calma, Clara e Simples: Use frases curtas e objetivas. Fale devagar, com voz calma e suave. Dê tempo para ele processar o que ouviu e responder. Olhe nos olhos.

Valide a Emoção: Se ele expressa medo ou agitação, valide a emoção, mesmo que o motivo não faça sentido para você. “Percebo que você está assustado(a). Estou aqui com você, vai ficar tudo bem”.

Identifique Gatilhos: Comportamentos desafiadores, incluindo insistência ou agitação, muitas vezes são uma forma do idoso com demência comunicar uma necessidade ou desconforto que ele não consegue expressar verbalmente devido à afasia (dificuldade de falar ou entender). Pode ser dor, fome, sede, frio, calor, desconforto com a roupa, bexiga cheia, intestino preso (fecaloma), medo, insegurança. Aprenda a observar o comportamento dele ao longo do dia para identificar possíveis gatilhos.

Lidar com a “teimosia” do idoso exige, acima de tudo, conhecimento, paciência e empatia. Entender se o comportamento vem de uma escolha consciente (lúcido) ou de um sintoma da doença (demência) muda completamente a forma como você vai agir e pode transformar situações de conflito em momentos de cuidado mais tranquilos.

E lembre-se: cuidar de quem cuida é essencial. Não se culpe por momentos de frustração e busque apoio sempre que precisar. Você não está sozinho nessa jornada!

Esperamos que essas dicas te ajudem a lidar com a teimosia de forma mais eficaz e leve. Se tiver alguma história ou dica para compartilhar, deixe nos comentários! 👇

Até a próxima!

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